quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sobre a arte de ser impopular










Sobre mim mesmo

Virei um blogueiro bissexto. Pronto! É fato!

Nem mesmo os hormônios criativos de TH, todo cheio de ânimo e gás em torno de seu "Walkin' on a Dream"; nem mesmo as sagradas visitas aos blogs de música e cultura; nem mesmo a rotina de pedir a benção aos redutos virtuais de boa informação; nem mesmo isso me tornou capaz de manter, com zelo, meu blog atualizado.

Mas, o bom disso aqui é que subverter regras não me torna exceção. Portanto estou de volta, com o velho excesso de vírgulas e a boa verborragia capricorniana pedante e à toa.


Sobre meninos, não sobre lobos

Então, aí ontem fomos dormir embalados pelos planos-seqüência absurdos de "Paranoid Park". Estava a fim de ver pra conferir o quanto o filme tinha de Larry Clark.

Sempre gostei da maneira dedicação quase pornográfica com a qual estes caras retratam a brand new lost generation americana das grandes cidades.

Pois bem, tem muito pouco de Mr. Clark. E muito de Mr. Van Sant, graças. Recomendo (apesar de ter dormido) para quem procura compreender a origem dos desentendimentos consigo mesmo. É sempre bom saber que tem mais gente fodida e sem sentido no mesmo barco. No caso, na mesma bacia de skate. Ou seja lá o nome que dêem praquela estrutura. Tô com meda do Google.

Sobre filmes que a gente não vê

Já me acostumei a pegar filmes e devolvê-los sem ter conseguido assistir. Aconteceu de novo neste carnaval. Diacho. Na verdade, nem rolou assim tanto arrependimento. Consegui terminar o "Barry Lyndon" (e me redimir com Kubrick, porque eu tava em falta). Mas nem peguei no "Control" e não me perdôo. Sou apaixonado pelo Corbijn e além disso queria muito entender direito o pau que rolou naquela época, com o Ian se picando, o Joy Division ainda podendo salvar o mundo e eu, sei lá, correndo de cueca com 4 anos de idade. Talvez, próximo feriado. Sei...

Em todo o caso, o vídeo que deixo, hoje, é o insuperável e terrível Atmosphere, que o próprio Corbijn dirigiu, em 1988, usando fotos do já falecido Ian e figurantes com pinta de Ku Klux Klan.





Retomando, Barry Lyndon é realmente foda. É incrível, arrastado, lindo, cada frame é uma tela romântica. Fala sobre o que mesmo? Hmm... sobre as conveniências da vida em sociedade? Hmm... ou sobre o quanto cruel o destino pode ser para quem escolhe o caminho da mediocridade? Belo filme. É chato, mas nem tanto. E vale a pena atravessar suas mais de 3 horas (tem até a clássica telinha negra de "Intermission", que eu acho luxo de primeira).

Ah, e vi também o “Eraserhead”, finalmente. E o filme é tão escroto de hermético que acho que o DVD deu pau antes do final e eu fiquei na merda, sem saber se ele termina naquele ponto mesmo, ou se continua. Porque sentido, pra mim, não ia fazer mesmo, nem se entrasse a Sue Johanson no final, com legenda e tudo pra explicar sobre as fixações mórbidas do cara. Não entendi nada, claro. Mas acho importante ver certo tipo de coisa. A gente não é obrigado a ler Visconde de Taunay no colégio? A gente não é obrigado a fazer catecismo? Então. Ver “Eraserhead” é o tipo de coisa que te torna mais digno, praticamente um sobrevivente a um pequeno holocausto cultural. Vou adorar encontrar numa roda alguém que, como eu, ame Lynch só pra poder dizer: "não entendi PORRA NENHUMA".

Do mesmo Lynch, três coisas para assistir antes de morrer (com risco de ir para o limbo do povo sem lá muita coisa interessante pra conversar):

a) Mulholland Drive - porque tem o Club Silencio.
b) Lost Highway - porque tem "história com virada", que eu adoro.
c) Blue Velvet - porque tem doido fazendo coisa que a gente bem que queria ter coragem de fazer, também.














Sobre pensar positivo, garoto enxaqueca

A verdade é que já fiquei velho demais pra uma porrada de coisa desimportante.

Política, por exemplo. Hormônios. Sociologia de calçada. Antropologia de boteco. Ética de esquina.

E já fiquei velho demais também pra achar bonitinho ou gracinha tudo isso aí. Na verdade, não acho engraçado. Nem bonitinho. Acho chato, mesmo.

Ver que as pessoas continuam discutindo sobre as mesmas "grandes questões humanitárias". Parece que tudo é uma repetição dos meus dias de tédio mortal no banco da faculdade em 1996. Ou de qualquer banco de qualquer faculdade em 1968. Tudo é uma infindável repetição de clichês.

Sei que é assim. E que há um ciclo que se sustenta exatamente tendo como base a repetição de um mesmo ato. Mas não quero mais fazer parte disso. Tenho saco não. E acho cafona.

Ir contra o clichê é uma questão de sanidade. Sou a favor do clichê, mas do clichê aberto, sem autocomiseração, brega e barulhento!

Engraçado ver que os maiores críticos dos clichês sociais são exatamente isto: borrões impressos em papel jornal. Clichês, portanto. Não me venha falar de instituições seculares como se fossem problema nosso. Rapaz, a gente já tá em outra carroça! Faça-me o favor!

De volta à estrada (se recompondo), subimos para o frio de 17 graus (cá na África, um gelo!) com TH a bordo e mais dois amigos. Colegas, na verdade. Um casal, mais na verdade ainda. E o que devia ter sido uma incrível e divertida jornada tornou-se um enfadonho duelo tácito entre Casal A, calado, tentando ouvir um pouco de boa música e Casal B (pra dizer bem a verdade, quase-casal) tentando com todas as forças acreditar que o futuro existe pra ser dividido ao meio, recheado de chocolate e comido às pressas.

(PS: também fiquei velho demais pra ser polido, até porque, acho todo mundo legal, até que me prove o contrário. E se esta pequena porção de textos existe pra ser uma crônica mesmo, que seja, oraporra!)

Curioso é a gente se ver repetido em versões de 19 anos. Porque, acredite, você se torna exatamente tudo o que passa a vida inteira tentando lutar contra. Eu virei meu próprio antagonista. Meu personal-fuckin'-dijsas. Você irá no mesmo caminho, não se iluda. Acho que a graça disso tudo é saber que a vida inteira é uma puta irônica. Pagou, gemeu, gozou.

TH não gosta muito de palavrão. Considera, quase sempre excesso.

Já eu gosto. E subir a serra com as pessoas citadas serviu pra isso: pra me colocar no meu lugar e dizer, em voz baixa "fique na sua. Você já foi como eles. E, se duvidar, daqui a pouco vai voltar exatamente ao mesmo lugar."

Talvez seja sobre isso que Nietzsche falava. Sobre a luta perdida contra o próprio retorno. Mas eu nem sou leitor do sujeito. Não posso ir além deste ponto. E, por ontem, obrigado à dupla que subiu conosco, os degraus da serra. Sem ironia, juro. Apesar da dificuldade em expressar a palavra falada com a mesma empatia da palavra escrita. Foi bacana ter ficado a sós com TH, mesmo tendo mais duas pessoas no carro. Ser motorista nos possibilita, sempre, uma visão privilegiada das coisas.


Sobre o tempo

Fico pensando quanto tempo deve ter demorado o Proust pra escrever seu "Em busca do tempo perdido". Provavelmente menos do que eu para ler. Não consigo nem retomar meu Thomas Mann – fiz tanto doce pra ganhar “A Montanha Mágica”. Vergonha em admitir a preguiça, mas ando meio lento, pra leitura, inclusive. Deve ter algo a ver com metabolismo. Na verdade, cada novo livro tem se tornado mais penoso de ir até o fim. Não interessa o quanto bom seja. Já comecei a queda vertiginosa para o abismo do início da meia-idade. Período em que o cinismo passa a ser o único modo de vida em sociedade. cada vez mais entendo queridos como o Mersault ou até mesmo o Holden criado pelo Salinger - nem lembrava mais do nome do sujeitinho sem destino. Taí outra merda: esquecimentos cada vez mais presentes. além da lerdeza, além da intolerância, cá estou eu me esquivando das falhas de memória.

Fiquei velho. vou ficar. já fui.


Sobre o passado recente

Escrevi isso semanas atrás. Lembro exatamente o momento: manhã sem graça, início de trabalho, descobrindo com júbilo e gozo que o Empire of the Sun finalmente havia lançado vídeo novo.

Aí, escrevi, mas não postei. E boto aqui, o arquivo na íntegra, sem adendos ou cortes.

(...) Isto é a morte. (...) Nosotros somos la gente (bom título para o texto. Merda! TH escreveu primeiro...) Finalmente um bom motivo pra voltar a esta esquina empoeirada. Imagina esperar (o que, 2, 3 meses???) por um video absurdo que nunca estréia... Imagine viajar dois mil quilômetros pensando em uma só trilha sonora e descobrir, numa manhã de chuva nesta terrivelmente ensolarada cidade, um e-mail dizendo "The brand new Empire of the Sun video for We Are The People". E imagina terminar uma manhã com o maior espírito de recomeço. Sopro de ar fazendo o sangue correr mais rápido nas veias. Ai, ai, ai... E o que fazer com a vontade de jogar tudo pro alto e sair correndo atrás de algum Shangri-La perdido no meio do deserto mexicano? De voar em busca da morte para saber que o que há por trás dela é vida pura? Pulsante, multicolorida, mutante. Estão lá todos os signos que, de certa forma, ando perseguindo: imagens poderosas sobre a imensa irrelevância (o deserto); sobre frustração (a bicicleta enterrada de rodas para cima); o idílio
(...)

Acaba assim, de maneira irônica e sem ponto final: "o idílio".

Pois bem, de volta uma outra vez. Tentando sair de uma gripe. E parece que a vida inteira é somente isto: eu, tentando sair de uma gripe.

Um comentário:

  1. É refletindo que eu vejo o quão diferente eu sou dos meus iguais...
    E será que a vida é sempre isto? A espera iminente para sair de uma gripe...?

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